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Falta de infraestrutura adequada - pedestres ficam à mercê

Em questão de segundos, ao perceber o perigo que se aproxima, o homem levanta o pequeno tabuleiro onde expõe suas mercadorias à venda, afasta-o para o lado e deixa o VLT passar. Em questão de segundos também, assim que o bonde passa, o tabuleiro volta para o espaço onde estava e a cena é recomposta até a passagem do próximo trem.

Rua da Constituição, Centro, Rio de Janeiro, e o VLT
Fotomontagem: Joãodoapex Rio

Estamos num início de tarde, num dia comum de semana, na Sete de Setembro, uma das principais e movimentadas ruas do Centro do Rio de Janeiro. O ponto que descrevo acima fica na esquina com a Gonçalves Dias, onde está a tradicional Confeitaria Colombo. Um grupo de artistas toca um chorinho chamando as pessoas para o almoço à antiga. Muita gente circulando. Sobre os trilhos do Veículo Leve, as mercadorias dos camelôs são expostas e angariam compradores. Mas é preciso ter cuidado e retirá-las assim que o trem se aproxima, o que é feito com maestria pelos ambulantes.

Na mesma calçada, um pouco mais adiante, quase esquina com a Avenida Rio Branco, um prédio faz manutenção de fachada, espalha tapumes e tira a vez dos pedestres, que também vão competir espaço com o VLT. De tempos em tempos terão que dar passagem ao veículo, que passa glamouroso.

Depois de mais de um ano em obras para a instalação dos trilhos do novo trem, a Sete de Setembro, no trecho entre o Largo da Carioca e a Praça Tiradentes, merecia melhor atenção de quem se ocupa de seu urbanismo, mas não tem. A ideia de fazer dali um boulevard ficou no papel, e a rua não merecia isso. É antiga, tem vários prédios que, se fossem bem cuidados, poderiam ajudá-la a se transformar num espaço muito especial.

Para começar, não há um espaço verde, e se os comerciantes quiserem tomar a iniciativa de harmonizar a rua com plantas serão multados porque estarão “obstruindo a passagem dos pedestres”. A rua ficou árida, a calçada do lado ímpar ficou muito estreita, obriga quem passa a redobrar a atenção e apurar bem ouvidos à passagem do trem. Ali, entre porteiros e comerciantes antigos, o VLT não angariou simpatias. Uma pena.

A calçada tem sua importância no relatório feito pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis, organização sem fins lucrativos, com presença em 50 países, que trabalha para tentar tornar as cidades mais inclusivas, seguras e agradáveis para as pessoas. Três palavras importantes que os cariocas gostariam de ouvir mais com relação à sua cidade. O estudo feito por analistas da organização aponta “Oito Princípios da Calçada” para desenvolver cidades mais ativas. Pode ser um bom começo de conversa, vamos lá:

 1. Dimensionamento adequado;
 2. Superfície qualificada;
 3. Drenagem eficiente;
 4. Acessibilidade universal;
 5. Conexões seguras;
 6. Espaço atraente;
 7. Segurança permanente;
 8. Sinalização coerente

Os pesquisadores que ajudaram a fazer o estudo dissecam ponto a ponto. O primeiro, sobre “Dimensionamento adequado”,  explica que a calçada de uma cidade precisa ser “composta por uma faixa livre, onde transitam os pedestres, uma faixa de serviço, onde está alocado o mobiliário urbano e uma faixa de transição, onde se dá o acesso às edificações”. Se o leitor acompanhou a minha descrição acima, certamente já reparou que nada disso é respeitado ali naquele ponto da  via de passagem do VLT.

Mais adiante, os estudiosos falam sobre “Drenagem eficiente”, alertando para o fato de que “um local alagado é impróprio para caminhada” e de que as calçadas que acumulam água tornam-se inúteis”. Sim, claro, portanto é preciso que a administração pública mande limpar bem os bueiros.No capítulo “Conexões seguras”,os pesquisadores tratam da questão sobre o transporte coletivo e lembram que “o caminho percorrido pelo pedestre envolve pontos de transição com elementos urbanísticos, como vias dedicadas aos veículos e pontos de parada do transporte coletivo.

É importante que tais conexões sejam acessíveis e seguras”. A extensão do meio-fio também é lembrada. Precisa ser de tal maneira a garantir segurança aos pedestres.
Quando falam sobre “Segurança permanente”, os estudiosos reforçam a tese de que as calçadas precisam estar sempre abertas para as pessoas, seja de dia ou à noite. A sugestão é adotar estratégias “para influenciar positivamente na segurança dos pedestres” e, assim, “tornar as calçadas mais vivas”, o que pode incluir uma iluminação boa, que também ajuda a aumentar um pouco mais s sensação de segurança.

É preciso também que as calçadas tenham uma sinalização eficiente para os pedestres, alertam os estudiosos.“Assim como os motoristas de veículos automotores, os pedestres também necessitam de informações claras para saber como se comportar e se localizar no ambiente urbano”, diz o texto.
Como diz o artigo de Daniely Votto, gerente de Governança Urbana do WRI Brasil, publicado no site da organização que se dedica a estudar os espaços urbanos, a rápida urbanização que se observa nas cidades, nos últimos tempos, não foi nada saudável para ninguém.

“Em realidade, muito foi construído sem planejamento, mas com o objetivo de acomodar o número crescente de pessoas. Esse processo desordenado acabou deixando alguns direitos dos cidadãos em segundo plano”, diz o texto, que reproduziu parte do que foi debatido durante o IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável.

Algumas soluções foram propostas no encontro, que aconteceu no dia 25 de abril, como linkar cidades interessadas em compartilhar experiências que contribuam para melhorar políticas de combate ao racismo, discriminação, xenofobia e a exclusão, por exemplo. Ou, providências do tipo aumentar a superfície de áreas verdes nas regiões urbanas.

Nada disso, porém, é novidade. Desde o século passado, quando em 1930 alguns arquitetos se juntaram para pensar sugestões que pudessem dar conta de cidades que foram total ou parcialmente destruídas pela Primeira Guerra, a necessidade de se oferecer mais qualidade de vida às pessoas que moram em aglomerados urbanos é apontada como primordial.  Desse encontro de arquitetos saiu o documento chamado “A Carta de Atenas” , capitaneado por Le Corbusier, arquiteto franco-suíço, considerado pai da arquitetura moderna, que inspirou, entre outros, Oscar Niemeyer. Vale lembrar um trecho da Carta de Atenas que se refere às calçadas:

“Criadas no tempo dos cavalos e só após a introdução dos coches, para evitar os atropelamentos, as calçadas são um remédio irrisório desde que as velocidades mecânicas introduziram nas ruas uma verdadeira ameaça de morte. A cidade atual abre as inumeráveis portas de suas casas para esta ameaça e suas inumeráveis janelas para os ruídos, as poeiras e os gases nocivos, resultantes de uma imensa circulação mecânica.

Este estado de coisas exige uma modificação radical: as velocidades do pedestre, 4km horários, e as velocidades mecânicas, 50 a 100km horários, devem ser separadas. As habitações serão afastadas das velocidades mecânicas, sendo estas canalizadas para um leito particular, enquanto o pedestre disporá de caminhos diretos ou de caminhos de passeio para ele reservados”.
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